Os desafios de empreender na medicina

30/01/2022
Equipe Administre sua Clínica

Empreender é concretizar um sonho.

Mesmo um médico que abre um consultório sozinho,  ja está empreendendo.

Em uma pesquisa recente, realizada em uma residência em Centro de referência de radiologia, detectou-se que 1/3 desses residentes pretendem empreender, ou seja ter a sua própria clínica

Assim, a premissa para empreender é: o conhecimento em gestão.

No entanto, para o médico esta torna-se uma questão mais desafiadora. Isso porque nos cursos de medicina disciplinas de gestão não são enfatizadas.

Conclusão:  o médico que cria uma  clínica, é um empreendedor, porém  sem gestão e tende a cometer  erros de forma sucessiva, mas que são totalmente evitáveis.

Concretizando o sonho de empreender

O sonho pode começar  em uma  manhã, em uma pequena sala de aula da residência (com as cadeiras em círculo  visando a fomentação de um bate-papo) onde o radiologista experiente  explica cuidadosamente sobre mercado de trabalho.

"...você pode trabalhar como empregado, como sócio ou  ... criar sua própria clínica" e enquanto ele fala  sobre vantagens e desvantagens destas opções , o sonho e a certeza do empreender cristaliza na mente de alguns, embora  mesmo sem a  noção exata do que é gerir um negócio.

Aqui a latência fica no fato "... vou criar uma clínica do meu jeito", e neste sonho de empreender, o médico que não é gestor, não imagina ou dimensiona a proporção do trabalho, dos custos, dos problemas e de todos os sacrifícios que virão pela frente.

Neste sentido, para muitos residentes, é real a oportunidade em se iniciar uma clínica dentro de um hospital, o que muitas vezes é um berçário seguro (mas sacrificante) para qualquer clínica que se inicia.

Os desafios na jornada do empreender

Os primeiros funcionários  parecerão não ter  chefe.

A equipe médica estará sempre ocupada e estressada, por conta das demandas urgentes e do volume de trabalho do atendimento intra-hospitalar.

Infelizmente, os funcionários  jovens nunca, espontaneamente, terão as mesmas preocupações que a equipe médica.

Cheios de vida, estes médicos empreendedores, interagirão  com todo mundo no trajeto pelos corredores  do hospital ou da clínica antes de atender as demandas.

Neste sentido, muitas vezes a paixão pelo trabalho e a excasses de tempo não permitirá que ele compartilhe, de modo organizado,  quais as exatas responsabilidades de cada um

Os primeiros passos

O trabalho será intenso.

Dia e noite para ter capital para compra de equipamentos.

E sem saber, este médico empreendedor perderá parte do que se deve receber (muito mais de 10%).  E essa perda acontecerá por motivos simples.

Este médico ainda não imagina que um pagamento mensal de uma operadora, frequentemente tem atendimentos misturados de três ou mais meses, o que prejudicará a conferência e facilitará o não recebimento de exames.

O médico empreendedor estará  muito mais focado em atender a demanda médica do que atentar-se a  burocracia das guias das operadoras.

Neste cenário a tendência a decepções é certa.

Aquele exame intra-hospitalar de um paciente em situação delicada, que  definiu a conduta de seu tratamento, salvando sua vida, muito provavelmente não terá seu pagamento realizado,  pois no ímpeto de ajudar, o preenchimento foi negligenciado, devido ao carater de urgência.

O sim, o erro continuará sendo do médico empreendedor.

Isso porque ele não estruturou o  processo e não orientou a equipe de funcionários para  que estes entendessem que os 10% de perdas ocasionado pelo preenchimento incorreto de guias,  pagariam o salários e máquinas ao longo do ano.

O crescimento

Com o número de equipamentos crescendo em paralelo ao número de funcionários e médicos, os problemas se multiplicam.

O telefone nunca para de tocar, pois a equipe não estruturada é 100% dependente das decisões do médico fundador e empreendedor.

E está dependência ocorrerá mesmo em situações repetidas, como:

    • reposição de materiais faltantes;
    • atendimento a um paciente que veio de londe e  passou dos 15 minutos de atraso de tolerância.

Além dos problemas internos, a clínica sofrerá  com os "chacoalhões" econômicos governamentais.

Chacoalhões relacionados ao aumento do dólar (o que afeta diretamente a compra dos equipamentos) e acabando por "empobrecer" as aquisições tecnológicas ou ainda alterações de regimes de impostos.

Quem não se lembra, há alguns anos, o ministro  da economia, durante um ano, aumentou o imposto do lucro presumido das clínicas para   35%.

Este aumento levou muitas clínicas a pedir empréstimo para não atrasar a folha de pagamento. E vamos além, se esse regime tributário persistisse, muitos quebrariam.

As operadoras de saúde

Algumas operadoras romperão contratos em busca de preço,  algumas atrasarão pagamentos.

Estes fatos poderão levar o médico empreendedor a buscar ajuda jurídica, no intuito de conseguir receber.

E lembre-se (notificação extra-judicial) e  20% desse valor ficará com o profissional. É claro que haverá uma sensação  de injustiça e de desvalorização do trabalho, então lidar com as frustrações também faz parte deste processo.

Sem noção de gestão, este médico que quer empreender, tomará decisão equivocada e muito danosa ao negócio: ceder em descontos para continuar atendendo uma cooperativa ou mesmo uma operadora de saúde.

Ao assinar, mesmo se a situação econômica melhorar,  passará anos e o desconto persistirá  sem mais nenhuma justificativa, enquanto para outros, os valores continuarão a serem pagos integralmente.

E mesmo com esse desconto, os  reajustes negociados conforme  lei 13.003/14 para repor a inflação serão abaixo do IGPM.

A probabilidade em se decepicionar com o Empreender

Decepcionado, o médico empreendedor poderá ver outras opções, como candidatar-se para trabalhar em uma clínica radiológica dentro ou fora do país.

Uma tarefa não muito fácil, pois precisará ponderar que o mais difícil ja terá sido  feito (solMédico Gestoridificar o negócio).

A pergunta que ficará será: desistir ou seguir em frente? O que será menos sofrido?

Aqui, justamente aqui, é que entrará a percepção de que só será possível seguir em frente com investimento em gestão.

Finalmente, se o médico empreendedor não desistir,  a sugestão é iniciar  por meio de consultorias especializadas, um trabalho longo e contínuo de educar, formar e treinar  a equipe de colaboradores.

Consultoria Financeira

Nenhuma solicitação de desconto pela operadora  será  negado, isso porque a negativa pode gerar um descredenciamento, então esta solicitação passará por  negociações tão exaustivas, que na maioria das vezes a operadora desistirá.

A Clínica passará  ativamente a solicitar reposição da inflação nas operadoras, de forma a garantir sua  sustentabilidade a longo prazo.

Lembramos que essa solicitação era sistematicamente negada, apesar da mensalidade do usuário aumentar acima da inflação muitas vezes.

Será necessário calcular custos, categorizar exames e convênios para assim descobrir o que agride economicamente a sustentabilidade da clínica.

Isso porque existem  exames de operadoras que quanto mais faz, menos sobras sem tem ao final do mês, ou seja,  não são sustentáveis.

Haverá a necessidade de organizar o faturamento, a fim de evitar perda de guias por erros de preenchimento e para recursar glosas, que pasmem, sem nenhuma justificativa chegam a 10-20% do faturamento de um convênio.

Esse fator gera perda para as clínicas  que não checam os pagamentos.

No entanto, essas perdas podem reduzir para 0,5% o faturamento, tendo uma equipe de faturamento   treinada e resiliente, inclusive com possibilidade de receber pagamentos retidos  antigos.

Qualidade

A implementação da gestão e das certificações torna claro que  o caminho da qualidade é incompatível com qualquer solicitação para dar benefício (muitas vezes em espécie para indicação de exame), o que além de ser antiético e  ilegal, prejudica a credibilidade do negócio.

Seguir o caminho da qualidade sempre será a opção acertada de sucesso, mantendo o feedback natural e mantendo o sistema de saúde, que não realizará exames sem necessidade.

A gestão e elaboração destes processos internos, são fundamentais para fazer a clínica funcionar.

Estas gestões são facilitadas pela implantação de certificações de qualidade como ISO (indústria)  ONA (dedicada a todos serviços de saúde) ou PADI do CBR (específica para clínicas de imagem).

Impantada estas certificações, passa-se a estabelecer uma organização das reponsabilidades e função (organograma).

Isso gera a uniformização de processos em cada setor, desde a telefonia até o estoque/financeiro.

O telefone do médico empreendedor finalmente vai parar de tocar para dar as mesmas respostas para perguntas, problemas e solicitações repetidas.

Os processos organizados, trazem  qualidade e segurança, o que facilita a tomada de decisões.

A partir daí, o médico empreendedor só é  consultado  nas raras vezes que a situação é nova e não há processo definido para aquilo ou para grandes decisões, como a compra de novos equipamentos ou novas tecnologias.

Gestão de pessoas

A gestão de pessoas tem importante papel para engajar  os colaboradores.

Isso porque grande parte da geração Y (mileniuns - início da internet) e da geração Z (100% internet) necessita de um próprosito para trabalhar, bem como a  horizontalização da hierarquia e sua participação nas decisões.

O investimento na gestão de pessoas é fundamental para  ter uma equipe com cultura forte (maior valor do negócio), seu principal motor econômico.

Inicia-se  com a definição clara para todos os colaboradores da  missão (o que somos), a visão ( o que queremos ser no futuro), valores (muito impregnado nos valores e personalidade do médico empreendedor fundador) e estratégia.

Aqui, vale ressaltar um destaque a implantação da  política de resultados.

Ela ajudará todos a buscarem ganhos (14º salário) por meio da meta atingida.

Processos Enxutos (Lean)

A contratação de uma consultoria de processos enxutos (Lean) com foco em ensinar os colaboradores é fundamental para a sustentabilidade.

A cada avaliação de um processo, a própria equipe aprende:

    • a encontrar atalhos,
    • eliminar etapas que não agregavam nenhum valor ao serviço,
    • eliminar  desperdícios,
    • identificar onde estão  os gargalos (etapa que limita a velocidade do processo) ,
    • pensar em soluções para otimizar baratear e acelerar .

Através da aplicação sucessiva  da metodologia, é possível dobrar o atendimento  sem aumentar número de colaboradores.

A implantacao do 4DX

Cada setor  tem desdobrada as suas metas para contribuir com a meta crucialmente importante da clínica.

Por exemplo, a meta crucialmente importante da clínica eram de 1000 exames/mês. A meta desdobrada da limpeza era a de  checar wcs a cada 30 minutos para deixá-los impecáveis e o cliente ter sempre uma boa experiência.

Além disso, a realização de reunião  semanal de cada setor por 15 minutos para que qualquer membro da equipe possa  propor e testar novas ideias  (melhorias dos processos ou soluções de novos problemas) auxiliando assim a  atingir a meta crucialmente importante.

Reflexões

É empírico dizer aos especialistas de imagem que iniciam carreira qual dos três caminhos seria melhor seguir:

    • trabalhar nem uma boa clínica/laboratório e não ter nenhuma preocupação além da carreira;
    • trabalhar como sócio sem dividir os desafios da gestão ;

Optando por essa última, torna-se fundamental e necessário aprimorar a gestão através de cursos e de consultorias para toda a equipe, para assim poder ter qualidade de vida (tempo para a família, saúde e atualização).

Isso garantirá:

    •  sustentabilidade econômica no longo prazo,
    • manter uma equipe alinhada e estimulada a atingir a meta principal
    • ter uma cultura forte de resultados, qualidade e inovação

Por fim, a dica que deixo a vocês é: empreender vale a pena! Não desistam!



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